Vivemos dias secos. É
fato! Vivemos dias com clima desértico. E não adianta imaginarmos que estamos
passando pela primavera, pois as flores são todas de plástico. E o mais
engraçado é que, mesmo em dias de sequidão, caminhamos como se andássemos sobre
uma fina camada de gelo, e precisamos caminhar rapidamente, pois, se pararmos,
ela racha, e aí nos afogamos.
Há não muito tempo,
assisti a uma entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé em que ele fala sobre obra
de Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, que trata da modernidade e da pós-modernidade.
Pondé menciona essas
metáforas, meio paradoxais, que falam de sequidão, deserto, flores e gelo que,
se bem pensadas, mostram um pouquinho da realidade que vivemos em tempos de
modernidade e pós-modernidade.
O deserto, em
princípio, nos traz a ideia de sequidão, de vazio; a falsa primavera e as
flores de plástico, às ilusões; e a fina casca de gelo, à fragilidade de nossa
vida e dos momentos que vivemos. Tudo muito superficial.
Agora, que momentos são
esses? Que grandes momentos temos vivido nestes “tempos modernos”?
Vivemos de ilusões.
Ilusões nos relacionamentos, ilusões no trabalho, nos estudos, na utopia de
poder mudar o mundo com aquilo que nos propomos a fazer. E isso é uma pena. É
uma pena fazermos tanto, vivermos correndo, trabalhando, ganhando dinheiro e
gastando e, muitas vezes, quando chegamos ao final da vida, (ou nem tanto, às
vezes, chegamos ao final do mês), paramos e pensamos: "para onde estou
correndo?" Não sabemos! Não sabemos se há solução para os problemas da
humanidade. Não sabemos nem se há solução para os nossos problemas! Então para
que corremos? Para que vivemos? Como gastamos o dinheiro que ganhamos ao longo
do mês? Não sabemos! E nessa correria, vão-se embora o dinheiro, o tempo, a
saúde, os relacionamentos, a vida.
E pensando assim,
muitas pessoas acabam por cair em depressão. E é o que dizem estimativas da
Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, mais de 350 milhões de pessoas
no mundo sofrem de depressão. Não seria isso consequência da ilusão dos tempos
de pós-modernidade, da insatisfação e da descrença em soluções para as
perturbações patológicas sociais?
Talvez vivamos a
iminência ou a necessidade de um renascimento. Um renascimento cultural. Como
aquele vivido após a Idade Média: a tão famosa idade das trevas.
E não seriam os anos
atuais outra idade das trevas? Trevas culturais, trevas na existência humana,
trevas de caráter e, por fim, trevas na reflexão moral. Não há mais reflexão
moral.
Valem o lucro, o
sucesso, a mídia, o status. Pessoas se submetem a títulos ridículos de subcelebridade
ou de quase famosos para que possam, a qualquer custo, atrair os holofotes.
Muitos gastam mais do que têm para parecer o que nunca foram, apenas por
modismo ou porque, no Facebook, 50% dos seus 18.000 “amigos” postaram que estão
usando um Mizuno Prophecy 2, um iPhone 5 ou um Chanel nº. 5.
E assim... a humanidade
caminha: rapidamente, inconsciente e sem destino. Porque, se parar, cai no
esquecimento, morre socialmente, não aparece na mídia, nas redes sociais ou nas
baladas.
Permaneçamos, pois em stand by. Aguardemos esse famigerado
“neo-renascimento cultural” enquanto corremos - de Mizuno ou não - sem destino
e sem motivo, acreditando que as flores são reais e que estamos indo no caminho
certo.
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