“Assim, toda a questão se reduz a isto: pode
a mente humana dominar o que a mente humana criou?” (Paul Valéry)
No texto anterior citei Luiz Felipe Pondé
e Zygmunt Bauman. Agora, quero fazer um paralelo entre a modernidade líquida,
as redes sociais e as relações interpessoais.
A pós-modernidade não aconteceu da noite
para o dia. Não dormimos seres da modernidade e acordamos pós-modernos. O termo
pós-modernidade surgiu por volta da década de 80 e veio criando força e forma
com o passar dos anos.
Bauman fala da modernidade líquida e isso
é explicado em poucas e simples palavras por Pondé. Ele menciona que nossa
realidade é líquida; escorre por entre os dedos. Ou seja, nosso casamento hoje
está muito bem, mas nada me garante que esse casamento seja uma realidade
amanhã. Todos estamos pautados em um só propósito nesta vida: sermos felizes. E
justamente por isso, se as pessoas não vêem em seus companheiros um motivo de
felicidade, elas simplesmente trocam. Não há mais uma grande preocupação com a
opinião da sociedade, da família ou dos amigos. Simplesmente as pessoas
separam-se e pronto. Muito diferente de tempos em que o casamento e a família
eram prezados e fazia-se qualquer coisa para tentar mantê-los.
Mas, suponho que exista muito mais por
trás dessa mobilidade, desse desprendimento nos relacionamentos do que
simplesmente o desejo de mudança. Algo mais deve motivar isso.
Atualmente, a linha que sustenta as
relações é tênue; e acredito que ela tem se atenuado cada vez mais com o
advento da internet e das redes sociais. De fato a internet veio para
revolucionar o mundo da tecnologia e facilitar a vida de muita gente.
Entretanto, essa facilidade tem alcançado áreas das quais o ser humano, dito
racional, tem perdido o controle.
Estava eu folheando o livro de Bauman, Modernidade Líquida, e encontrei a frase
em epígrafe. É incrível como o ser humano acaba sendo dominado por aquilo que
ele um dia supôs que dominaria. As redes sociais e a internet são um exemplo
disso.
Somos completamente dominados e somos
capazes de passar horas em frente à tela de um computador, tablet ou smartphone e
esquecemo-nos de que existem pessoas reais ao nosso redor. Esposa, marido,
filhos, amigos que, embora reais, têm-se tornado cada vez mais virtuais, dispensáveis
e insignificantes. Temos confundido as relações virtuais com as reais.
Em redes sociais, por exemplo, com apenas
um clic ou toque de tela, nos tornamos “amigos” de um milhão de pessoas e, com
o mesmo clic ou toque, deixamos de sê-lo. E não é assim como têm se acabado os
relacionamentos atualmente? Casais casam-se e divorciam-se com uma rapidez
inacreditável. Há tempos, se um casal quisesse se separar deveria primeiro propor
uma ação de separação e, apenas depois de transcorrido o prazo de um ano de
separação judicial, se por ventura o casal não optasse pelo restabelecimento da
sociedade conjugal, seria dada a sentença de divórcio.
Hoje, em tempos pós-modernos, em que a
rapidez é imprescindível, por meio de uma emenda constitucional, não mais é
necessário nem mesmo uma hora de casamento para que possamos requerer, lavrar e
assinar o divórcio por via extra-judicial.
Não seria isso como um link? Com apenas um
“clic”, constituímos família, e com outro, a desfazemos. Mudamos nosso status no perfil da vida com uma velocidade
que ainda não conseguimos processar. Não sou contra a modernidade ou as redes
sociais, nem quero aqui falar contra elas. Eu mesmo possuo perfis em algumas
delas. Mas sou contra a banalização da família e dos relacionamentos. Sou contra
a nossa permanência desenfreada em frente a um aparelho eletrônico,
bisbilhotando a vida dos outros e expondo a nossa. Sou contra a "aquisição"
de milhares de novos amigos virtuais e o desprezo pelo dialogo e interação
reais com família e amigos. Sou contra a repulsa por uma boa leitura, já que a
emergência dos tempos atuais nos permite apenas a leitura de pequenas charges,
muitas vezes de péssimo gosto, no admirável Facebook.
Sou contra sim, o crescimento descontrolado de uma criação que, na verdade, já controla
seu criador e, por conta disso, já muda seus hábitos diários.
Sei que o
crescimento do “www” é inevitável e
com ele, o desenvolvimento da tecnologia. Mas, ao invés de sermos dominados por
esse crescimento, é de extrema importância que façamos uma revisão de nossos
conceitos de família e sociedade, para que não caiamos no erro de vivermos uma
vida irreal, e ao chegarmos ao fim, percebamos que o que construímos foi apenas
mais um perfil fake daquilo que
deveria realmente ser uma vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário